EM BUSCA DO CENTRO

 

    Certo dia, fui convidado por um amigo para tomar o café da manhã num belíssimo hotel cinco estrelas. Encontrei-me com ele no saguão e fomos para o restaurante. A riqueza e opulência da mesa eram extraordinárias. A variedade de opções disponíveis era inimaginável: pães de toda espécie, frios e queijos de todo tipo, frutas de todas as estações, iogurtes de todos os sabores, sucos para todos os gostos, além dos variados pratos quentes, cereais, geléias e os indispensáveis café e leite, sem os quais aquilo não seria um café da manhã.

        

    Observei por um pouco o movimento das pessoas em volta daquela mesa fartíssima. Uns faziam primeiro um "tour exploratório" por toda a mesa para depois começar o delicado e trabalhoso processo de escolha. Outros, mais afoitos, já iam recolhendo todas as iguarias, percebendo, no meio do caminho, que lhes faltaria prato e estômago para chegar até o fim. Alguns, talvez mais acostumados com estes hotéis, iam com certa segurança naquilo que supostamente lhes interessava, mas sempre paravam hesitantes diante de um prato novo, de uma fruta ainda não provada.

 

    As escolhas nos tornam hesitantes. Quanto mais opções temos, mais hesitação encontraremos. Normalmente, meu desjejum é muito simples: uma fruta, café com leite e pão com manteiga. Tem sido assim por muitos anos. Levanto todos os dias e não tenho nenhuma preocupação ou dúvida sobre o que vou comer. Mas naquele dia no hotel, eu também hesitei e precisei fazer o tal "tour investigativo" para depois começar a difícil tarefa de escolher.

 

    O mundo moderno é como uma mesa de café da manhã num excelente hotel. Ele nos oferece um leque de opções cada vez maior. Em todas as esferas da vida, encontramos diante de nós um número variado de escolhas que intensificam a dúvida e a hesitação, aumentam a ansiedade e nos tornam vulneráveis à propaganda e à sedução. Há, hoje, uma geração que vem perdendo a capacidade de escolher a partir de princípios orientadores e se transformaram em reféns da publicidade que decide que roupa devem vestir, que carro vão comprar, qual a comida que irão comer, que lugar devem visitar. O mundo tornou-se vasto demais e muitos caminham nele sem nenhum senso de direção ou propósito.

 

    Necessitamos, hoje, mais do que em qualquer outro período da história, de um centro orientador, de um eixo que nos liberte de uma vida manipulada e manipuladora, entregue aos apelos da propaganda, estimulada por toda sorte de drogas e acalmada por placebos; andando o tempo todo dentro de um enorme shopping; visitando lojas; gastando dinheiro e energia, buscando uma satisfação que logo é interrompida pela desilusão e pelo desapontamento.

 

    O povo de Israel, todas as vezes que se afastava do seu centro - o Senhor Deus -, buscando sentido para a vida indo atrás de outros deuses, construindo altares a Baal em todo monte e debaixo de toda árvore, cedo ou tarde descobria a enorme frustração e o grande vazio de uma vida entregue aos apelos de outras nações e da moda de outros povos. O profeta Jeremias os chama de volta ao centro. Alguns ouvem o profeta e respondem: "Sim! Nós viremos a ti, pois tu és o Senhor, o nosso Deus. De fato, a agitação, a idolatria nas colinas e o murmúrio nos montes são enganos. No Senhor, no nosso Deus, está a salvação de Israel" (Jeremias 3.22 e 23). A agitação dos shoppings é pura ilusão. Somente o Senhor é a salvação.

 

    Na visão de São João, narrada no Apocalipse, ele olha e vê um trono no céu e, em volta deste trono, vinte e quatro anciãos, a velha e a nova aliança, Israel e a Igreja. São aqueles que por todos estes séculos viveram uma vida centrada em Deus, em volta do trono. Viveram pela fé, resistiram aos apelos e às propagandas, foram obedientes, suportaram o sofrimento, buscaram o arrependimento, confessaram, ofertaram suas vidas, talentos e recursos, proclamaram o Evangelho, oraram e adoraram, abençoaram, alimentaram e cuidaram daqueles que lhes foram confiados. São homens e mulheres que não se renderam às ilusões da propaganda, mas firmaram-se num centro e deixaram suas vidas ser conduzidas e orientadas a partir deste centro.

 

    O senhorio de Cristo não é apenas uma afirmação do credo que repetimos em nossas liturgias, mas uma realidade libertadora. Confessar a Cristo como Senhor implica em estabelecer um trono no centro de nossas vidas e reconhecer que aquele que encontra-se assentado nele não é apenas um personagem dominical que, na segunda-feira, cede seu lugar ao mercado financeiro, aos caprichos da moda, aos interesses políticos, aos desejos imorais ou aos ídolos de barro do consumo. Confessar a Cristo como Senhor implica viver concentricamente e não excentricamente. Implica em caminhar com um propósito, em discernir a vulgaridade das paixões mundanas, enfrentar a dor e o sofrimento com esperança e coragem, renunciar às ofertas sedutoras dos prazeres fúteis. Implica em ser transformado dia-a-dia na imagem de Cristo, em viver uma humanidade real com todas as suas limitações, hesitações e dúvidas ao lado da oração, adoração e segurança em Cristo.

 

    Ter um centro, um trono no coração, é responder a Cristo em toda e qualquer circunstância com obediência e fidelidade, é reconhecê-lo em todos os caminhos, é saber que ele é o alfa de toda a compreensão da história e da vida. Precisamos de um centro, de um princípio orientador, de um trono no coração da existência. Precisamos nos curvar diante deste trono e deixar que aquele que encontra-se assentado nele nos oriente, conduza, abençõe e alimente nossas vidas confusas num mundo de tantas escolhas.

 

    Pr. Ricardo Barbosa de Souza.