LIÇÕES QUE TENHO APRENDIDO

 

    Um dos riscos que pastores, educadores e pais enfrentam sempre é o de achar que os outros é que precisam aprender, nunca eles. Os pastores estão sempre pregando para os outros, fazendo apelos para os que ainda não se converteram ou não se consagraram. É difícil ver um pastor fazendo apelo para si mesmo; os pais, da mesma forma. Estão sempre preocupados em disciplinar seus filhos, mas dificilmente sujeitam-se a qualquer disciplina. Dizem que os filhos precisam aprender a obedecer, mas quase nunca obedecem a ninguém. Os professores e educadores, em sua grande maioria, fazem o mesmo.

 

    Este é um risco contra o qual luto sempre. Minha tendência é ler a Bíblia para os outros; pregar contra os erros e pecados dos outros; orar pela transformação dos que andam por caminhos falsos. Resisto em incluir-me entre aqueles contra os quais proclamo o Evangelho de Cristo. Contudo, sei que o que conta não é o que ensino, mas o que aprendo - a pessoa sempre precede aquilo que fala. É por isso que o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, pede a ele que se lembre, não das coisas que aprendeu, mas de quem aprendeu. Para Paulo, o mestre era a lição.

 

    Gostaria de aproveitar a atmosfera de fim de ano para compartilhar algumas coisas que tenho aprendido. São alguns tijolos que vêm compondo a casa que o Espírito de Deus tem construído sobre o alicerce que é Cristo e sua obra redentora. São lições que vêm moldando minha vida. Não se tratam de experiências de um determinado período, mas do resultado de muitas experiências vividas ao longo da vida que acabam por transformar-se num patrimônio da minha existência diante de Deus no mundo.

 

    Tenho aprendido que a única possibilidade de amar e seguir amando é quando reconheço e aceito o grande e incondicional amor de Deus por mim. A certeza de ser amado, aceito e reconhecido me dá a segurança de que preciso para entrar no mundo e amar os homens, mesmo sabendo que muitos me abandonarão e rejeitarão. Dá-me também a segurança de que posso servi-los sem esperar qualquer retribuição ou forma de compensação.

 

    Tenho aprendido que só posso perdoar quando reconheço que o meu pecado e minha enorme dívida para com Deus e para com a humanidade foram completamente perdoados e esquecidos pela graça de Jesus Cristo. Somente quando o enorme fardo que pesa sobre mim é tomado pelo Senhor posso ver-me livre para ajudar meus irmãos a carregarem seus pesados fardos e oferecer a eles o mesmo perdão que recebi de Cristo. O perdão e o amor não são virtudes minhas; são minha resposta ao que Deus fez e tem feito por mim.

 

    Tenho aprendido a olhar mais para minhas fraquezas do que para as próprias forças e competências. Não tem sido fácil, mas hoje sei que não haverá crescimento ou transformação pessoais se eu não for capaz de reconhecer minhas próprias feridas e fraquezas. Aprendi com o apóstolo Paulo que, quando sou fraco, aí é que sou forte, e de que são as minhas fraquezas que me levam sempre de volta à oração e à dependência de Deus. São elas que me despertam todos os dias para suplicar por uma força que não tenho - para clamar a Deus, mais uma vez, por misericórdia e compaixão.

 

    Tenho aprendido a aceitar meus limites e minha humanidade. Já cansei de tentar ser o que não sou, de querer atender a demandas e expectativas dos outros. Quero viver como um homem, lutando contra minhas ambigüidades, enfrentando meus pecados; mas também amando e celebrando a vida, os amigos, a graça, o amor, a fé. É possível que isto leve alguns a se decepcionarem comigo, mas não pretendo abrir mão do que sou e deverei ainda ser diante de Deus e dos homens.

 

    Tenho aprendido que a oração é uma amizade com Deus. Que não se trata de um recurso utilitário através do qual adquirimos bênçãos. É um convite para uma comunhão que nos traz a segurança do amor divino e, na medida em que ela se torna mais pessoal e íntima, mais nos transforma à imagem e semelhança de Cristo.

 

    Tenho aprendido que a amizade é uma das poucas coisas que carregamos conosco por toda a vida. Ter um amigo - alguém que nos compreenda e com quem podemos compartilhar os segredos da alma, alguém que nos aceita e ama sem querer nos mudar, mas que também não se conforma com nossos erros e pecados - é coisa rara nos dias de hoje, é uma dádiva divina que temos que guardar como um tesouro.

 

    Tenho aprendido a amar a Igreja. Não refiro-me aqui aos seus programas ou peso institucional, mas sim ao grupo de irmãos e irmãs com quem compartilho a fé e a vida, ao corpo de Cristo. Quanto mais me envolvo com ela e conheço suas alegrias e esperanças, dores e feridas, mais reconheço o quanto preciso dela para continuar crescendo diante de Deus e dos homens.

 

    Tenho aprendido a dar valor às coisas pequenas, aos gestos simples, aos passos tímidos e vacilantes daqueles que lutam para andar e seguir adiante, e às descobertas que trazem nova luz à fé. Como diz o salmista, não ando à procura de grandes coisas, muito pelo contrário - tenho aprendido que as grandes coisas começam com uma suave brisa e que a vida não é feita apenas de grandes acontecimentos, experiências extraordinárias ou revelações bombásticas, mas de eventos comuns e rotineiros onde, através da oração, reconhecemos a presença de Deus, que não apenas dá sentido à nossa rotina, mas também abre os nossos olhos para contemplarmos sua graça e amor.

 

    Tenho aprendido que o amor de minha esposa e filhos, vivido e provado nas rotinas ordinárias da nossa casa, são instrumentos da providência divina que preservam minha saúde espiritual e emocional. Tenho aprendido que a vida doméstica protege-me das ilusões e seduções criadas pela propaganda e me mantém atento ao que é real e verdadeiro.

 

    Estas são algumas lições que tenho aprendido. Que Deus continue nos abençoando. Desejo a todos um novo ano cheio de esperança e paz.

 

    Pr. Ricardo Barbosa de Souza.